Livro: Cristologia

A cristologia, o estudo das doutrinas, tradições históricas, e textos bíblicos a respeito de Jesus Cristo, é um dos pontos centrais de toda a teologia cristã. Não há doutrina que não intersecta com ideias a respeito de Jesus, não há teólogo que não tenha se dedicado a escrever a respeito de Cristo, não há texto bíblico que não aponte, diretamente ou indiretamente, para Ele.
  • Autor: João dos Santos
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978-85-60068-500

207

0,310

2017

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CRISTOLOGIA

História, composição e aspectos teológicos

A cristologia, o estudo das doutrinas, tradições históricas, e textos bíblicos a respeito de Jesus Cristo, é um dos pontos centrais de toda a teologia cristã. Não há doutrina que não intersecta com ideias a respeito de Jesus, não há teólogo que não tenha se dedicado a escrever a respeito de Cristo, não há texto bíblico que não aponte, diretamente ou indiretamente, para Ele. Por este motivo é às vezes difícil decidir por onde começar a tratar da pessoa de Cristo. Devemos iniciar com os evangelhos, ou com profecias a seu respeito no Antigo Testamento? Começamos com um estudo das doutrinas a seu respeito, ou com os debates cristológicos que deram forma às crenças a respeito de Jesus que mantemos até hoje?

E mais, como decidir o que incluir em nosso estudo de Jesus Cristo? Temos em nosso manual espaço limitadíssimo, e a cristologia é talvez o tópico mais vasto de toda a teologia. Ao término de seu evangelho, João especulou que se todos os atos e dizeres de Jesus fossem registrados, talvez os livros que contivessem estes relatos seriam numerosos demais para caber no mundo inteiro (Jo 21:25). E muitos dos principais debates ao decorrer da história da teologia tiveram e tem Jesus em seu centro, dos debates cristológicos dos primeiros séculos da igreja, até controvérsias modernas a respeito do Jesus histórico, e da autenticidade dos relatos a seu respeito que encontramos nos evangelhos.

É simplesmente impossível encaixar tudo o que precisa ser dito a respeito do assunto em um pequeno livro como este.

Como se isso não fosse o bastante, há ainda o problema do método: que abordagem devemos seguir ao estudar cristologia? Podemos citar pelo menos três abordagens: a abordagem bíblica, pela qual examinamos os textos bíblicos que falam a respeito de Jesus, as comparamos umas com as outras, e tentamos criar um retrato coerente de quem foi Jesus, o que Ele fez, e qual é sua importância teológica; a abordagem histórica, pela qual buscamos confirmar a autenticidade dos relatos do Novo Testamento a respeito de Jesus, e ainda por cima tentamos traçar os debates teológicos que ocorreram a seu respeito por toda a história, dentro e fora da igreja, buscando entender as maneiras em que a compreensão das pessoas a respeito de Jesus evoluiu ao decorrer dos séculos; e a abordagem dogmática, da teologia sistemática, pela qual buscamos sintetizar o ensinamento bíblico e o desenvolvimento histórico de teorias a respeito de Jesus para criar doutrinas, afirmações de crença que resumem verdades espirituais a seu respeito. Buscamos encontrar um meio termo entre as diferentes abordagens possíveis: nas diferentes unidades deste livro exploraremos a cristologia usando estes métodos diferentes, abordando através de cada uma assuntos cristológicos diferentes. Não poderemos ser exaustivos; qualquer leitor atento com um conhecimento mínimo de teologia perceberá omissões enormes neste livro, pontos e questões que simplesmente não tivemos espaço ou tempo para mencionar, mas esperamos oferecer um olhar introdutório minimamente suficiente para iniciar um estudo mais prolongado da cristologia e suas infinitas

ramificações por toda a teologia cristã.

Na primeira unidade abordaremos duas questões. A primeira é o lugar da cristologia dentro da teologia cristã, especificamente seu lugar na teologia sistemática. Trataremos da natureza das doutrinas, e o modo em que a doutrina de Cristo interfaceia com cada outra crença da religião cristã. Em segundo lugar, pela maior parte do capítulo, exporemos algumas das principais ideias da teologia sistemática a respeito de Jesus: sua divindade e relação com os outros membros da Santíssima Trindade, sua humanidade, a união das duas naturezas, divina e humana, na única pessoa de Cristo, e seu papel como mediador entre Deus e a humanidade.

Na segunda unidade optaremos por uma abordagem bíblica, tratando das maneiras diferentes em que textos das Escrituras aproximam o tema de Cristo. Estudaremos algumas das profecias messiânicas do Antigo Testamento, e veremos o lugar do messianismo na tradição religiosa judaica.

Veremos as abordagens distintas que os evangelhos sinóticos e João utilizaram ao tratar de Jesus, os primeiros retratando-o principalmente como o messias prometido a Israel chegado ao mundo para instaurar o reino de Deus, o último retratando-o principalmente como o próprio Deus encarnado, o mediador por quem todas as bençãos do Pai chegariam ao mundo. Veremos então algumas das peculiaridades da abordagem paulina a Jesus Cristo, e finalmente trataremos da maneira em que o livro de Hebreus, o clássico tratado cristológico do Novo Testamento, estabelece a superioridade de Cristo em todas as coisas, acima de qualquer revelação divina anterior.

Na terceira unidade faremos um estudo histórico do desenvolvimento da cristologia nos primeiros séculos da igreja. Veremos que este desenvolvimento se deu principalmente por meio de conflitos eclesiásticos e controvérsias teológicas: a igreja só chegou a definições mais específicas sobre a natureza e obra de Jesus porque foi, pouco a pouco, em questão por questão, obrigada a fazê-lo por movimentos estranhos fora da igreja e tendências heterodoxas dentro dela.

Assim, inicialmente, ofereceremos uma explicação da situação histórica da igreja ao final do primeiro século, e o surgimento de um dos principais movimentos religiosos rivais do cristianismo ortodoxo, o gnosticismo. Em prosseguimento trataremos da controvérsia sabeliana, o primeiro surgimento de uma cristologia antitrinitária na história da igreja, que negava a distinção de pessoas entre Pai, Filho e Espírito Santo. Seguiremos então com o estudo do outro grande movimento antitrinitário da antiguidade, o arianismo, que negava a divindade de Jesus Cristo. Finalmente encerraremos nosso estudo histórico com alguns dos debates a respeito da relação entre a humanidade e divindade de Jesus, e a maneira em que o consenso cristológico ortodoxo foi estabelecido no concílio de Calcedônia.

Finalmente, retornaremos a uma abordagem dogmática para tratarmos de quem Jesus é para nós, qual é a importância de sua encarnação, morte e ressurreição não apenas em termos de doutrinas e conflitos teológicos, mas em termos de seus efeitos nas vidas de todos os que creem em seu nome. Abordaremos a obra salvífica de Cristo em sua encarnação e morte, e a importância da ressurreição para esta obra. Estudaremos como o Novo Testamento, em especial nos escritos de Paulo, estabelece Jesus como uma presença ativa em nossas vidas, tanto individualmente como pessoas unidas a Ele, como corporativamente, sendo a igreja uma comunidade de pessoas ligadas umas às outras através de Cristo. Finalmente examinaremos a centralidade de Cristo em todos os aspectos da crença, teologia, pregação e vida cristãs.

Desejamos a todos os estudantes uma excelente leitura, e esperamos que este livro seja um guia introdutório minimamente satisfatório para aqueles que desejam aprender mais a respeito de Jesus Cristo, e a respeito daquilo que a igreja ensina sobre Ele.

Este livro faz parte do Curso Médio em Teologia